domingo, 28 de abril de 2013

Face ou Carta?
Sinto falta do tempo em que a comunicação era feita através de cartas. Não que eu recebesse muitas. Mas as poucas que tive o prazer de receber me trouxeram ternura carinho. E amor em forma de palavras curtas e simples.
Não raramente chegavam as nossas casas, trazendo um cheiro bom de amizade. Enfeitadas com lindos desenhos e crominhos que sempre nos remetia a um espaço de arte e sonhos coloridos.
Também tinha as cartas com notícias tristes, que ninguém queria receber.
E as cartas de amor?! Se fossem da pessoa amada se comparava a uma canção enchendo os corações de sentimentos mil. Muitas vezes mal escritas, mas quem as recebia, geralmente só entendia a mensagem, que trazia em suas linhas subscritas.
E na escola, a professora era quem primeiro nos ensinava a arte de escrevê-las. Aula que a gente aprendia facilmente. Aproveitando para enviá-las aquele menino ou menina, com quem a gente, não tinha coragem de dizer nem um simples olá! Pequeno papel, cheio de riscos e rabiscos, feitos por quem mal começara a viver e já se debatia entre em um atoleiro de sentimentos incompreensíveis, para almas tão despreparadas e nuas. Mas que quase sempre era recebida e escondida entre folhas amareladas de um caderno. E sempre terminava embaixo de algum brinquedo, colchão ou outro objeto do quarto. E acabava guardada eternamente no baú de recordações no fundo de um coração.
Bilhetes, cartas telegramas, são coisas do passado. Hoje, a nossa correspondência, se transformou em um punhado, de papeis frios e feios, que se não for cobrança, com certeza será propaganda comercial, ou pior ainda. Propaganda eleitoral.
Eu ainda estou bem. Pois tendo uma assinatura de Seleções do Reader’s Digest, espero sempre encontrar algum artigo interessante para ler, quando minha netinha vem correndo do portão gritando: Vó! carta pra você! Quase sempre reclamando por que não receber cartas também.  Na verdade ela não tem idéia, do que seria uma carta.
Antes inventaram o telefone. Objeto prático e de valor tão grade que se podia trocar por uma casa ou carro. Era moeda caríssima. Que logo se tornou popular e indispensável, mas saindo muito caras, as ligações foram ficando cada vez mais curtas e raras. E até mesmo frustrantes. Já que as empresas de telefonia deixam muito a desejar. Aí veio o celular que de tão comum ficou outra vez, impossível de atender as necessidades de todos nos. Ninguém com bom senso poderá passar horas, conversando, ou resolvendo seus problemas, no celular. Mesmo porque, são poucos os atendentes das empresas, bem preparado para lidar com o público.
Então o computador, que só estava ao alcance de poucos, tornou se peça comum e indispensável em quase todas as casas.
Aí chegou a internet. Com a chamada globalização, virando revirado e expondo o mais íntimo das pessoas.
E agora todos nós estamos na mesma panela.
Outro dia, minha filha, mostrou-me uma foto do nosso portão dos fundos, onde minha varandinha mostrava ao mundo, até minhas toalhas de banho no varal. Tudo fotografado no tempo e na hora por satélites.
Então, eu em cima dos meus sessenta e dois anos, estou quebrando a cabeça e aprendendo a usar o Facebook. Que agora é o meio mais comum de comunicação. Só não sei até quando.
Mas ainda me fica a pergunta:
Mandar recados para alguém que você ama, em um veículo público?
Estamos realmente nos comunicando? Ou simplesmente brincando de nos comunicar?
Conclusão.
-A Globalização nos tirou as cartas.
As visitas tão esperadas de parentes e amigos.
As conversas simples no portão. Quando o adulto “botava o papo em dia”, sentados em banquinhos rudes de madeira, ou cadeiras de ferro com almofadas artesanais. Senhoras com uma barriga redondinha teciam ponto a ponto aquele que seria, o primeiro casaquinho ou sapato de mais um membro daquela família. Meio afastado, em sua espreguiçadeira, um gordo senhor escondendo a cara nas folhas de um jornal ainda quente da gráfica, fingia não escutar a conversas das vizinhas.  Enquanto a gurizada corria e pulava ao redor aproveitado a fresca das tardes de outono.
A Globalização nos tirou não só a privacidade, mas está transformando nossas crianças em pequenos adultos com responsabilidades que antes era só pra gente grande .E finalmente, o infinito prazer de receber um olhar, um sorriso, uma palavra, e um abraço apertado e aconchegante, daquele “dileto” amigo.
Podem me chamar de velha. E sou mesmo. Mas ainda prefiro o calor simplicidade, e a intimidade das cartas.
Elci Moreira de Souza.
10/04/13

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